O corpo púbere em cena: os ritos de passagem, a adolescência e a anorexia
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i27.5508Resumo
Se nas sociedades tradicionais os ritos de passagem funcionam como um tratamento simbólico para o real da puberdade e de preparação para a entrada na vida adulta pelo estabelecimento de novas modalidades de enlaçamento com o Outro social, nas sociedades modernas e hipermodernas, os ideais oferecidos pela cultura já não alcançam mais metaforizar o gozo. É aí onde o Outro se revela mais inconsistente que o adolescente se encontra lançado à urgência de tecer soluções singulares. Neste artigo, propomos que a anorexia desencadeada no tempo da adolescência pode surgir como uma dessas soluções inconscientes a que o sujeito recorre em face de uma angústia insuportável, de um gozo incontrolável e excessivo que irrompe sobre o corpo por meio da puberdade. Em vista disso, também apostamos na profícua interlocução entre a Psicanálise e o Cinema, trazendo para o nosso debate alguns fragmentos do filme Tem um vidro sob minha pele, da diretora brasileira Moara Rossetto Passoni, que nos conta a história da personagem Beatriz e da anorexia que a acomete entre os 11 e 18 anos. Acreditamos que a invenção de Passoni, nessa obra fílmica, coloca em cena valiosos elementos e articulações que nos permitirão extrair consequências para abordarmos na clínica os impasses do sujeito na anorexia com o seu corpo devido à “invasão” da puberdade.